A Serra Gaúcha que eu conheci – 11
Bons Vinhos

A Serra Gaúcha que eu conheci – 11



A garrafa de vinho que parecia um abajur

Uma demonstração do grau de generosidade do mercado brasileiro de vinhos foi a passagem meteórica dos vinhos alemães “da garrafa azul”. Digo meteórica porque assim como chegaram e ganharam mercado rapidamente, desapareceram prejudicando a fama dos bons vinhos alemães.

No inicio da década de noventa um importante importador de vinhos de São Paulo decidiu inovar baseado no interesse crescente dos novos consumidores que começavam a valorizar os vinhos brancos “tipo alemão”.

Tudo começou com um vinho branco adocicado, com ligeira gaseificação, leve, agradável, fácil de beber, comercializado pela Heublein do Brasil de Bento Gonçalves na Serra Gaúcha, sob a marca Liebfraumilch apresentado na garrafa “reno”, alta, estreita, na cor verde.
Em meados da década de oitenta surgiram outras marcas como Wine Zeller, Katz Wine, Zahringer´s do mesmo estilo de vinho que criaram a categoria “branco tipo alemão”.
Devido ao gosto este vinho ganhou a preferencia dos novos consumidores cansados dos rosados adocicados, identificados como vinhos do público feminino ou das pessoas que pouco conheciam.

A inovação do importador paulista foi a cor da garrafa azul que chamava a atenção ao chegar às mesas. Na minha opinião esta garrafa estava mais para um abajur que para um vinho.

Com a chegada deste vinho, inicialmente desprezado pelos produtores nacionais, uma nova fase começava: a da inovação, da ousadia que atraia o novo consumidor pouco apegado a tradição, histórias, legendas, etc. O êxito deste vinho é mostrado nos números abaixo:

Importações em caixas de 9 litros ou 12 unidades de 750 ml

1990: 371.358
1995: 1.329.008
2000: 129.414

Fantástico, incrível!!!

A De Lantier tinha também seu vinho tipo alemão da marca Zahringer´s que começou a perder vendas porque era apresentado na tradicional garrafa verde. O departamento de marketing seguidamente me solicitava estudar a possibilidade de adotar a garrafa azul.
Eu respondia sistematicamente: Nem por cima de meu cadáver, isso é uma heresia!.
Tempo depois me disseram: Achamos que vai ter de ser por cima de seu cadáver porque nosso vinho está vendendo cada dia menos. Finalmente me submeti à vontade do mercado e trocamos a garrafa. As vendas dispararam assim como a de outros vinhos nacionais que adotaram a mesma postura afogando a importação.

Infelizmente o setor tinha falado tão mal do vinho da garrafa azul que o mercado deste produto caiu vertiginosamente em alguns anos.
Ficou a lição: mercados novos como o brasileiro gostam de novos produtos, de inovações, de surpressas. Cabe a nós produtores atender essas necessidades sem apelações, sem o abandono dos valores tradicionais, sem esquecer as raízes desta cultura milenar.

Hoje olhando este fenômeno de outra perspectiva devo reconhecer que graças a este vinho da “garrafa abajur” muitas pessoas perderam o medo e começaram a consumir.

Como o paladar é aperfeiçoado com o tempo estas pessoas hoje são certamente apreciadores de vinhos e espumantes secos. Não precisam mais do sabor adocicado para deleitar-se.



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