Bons Vinhos
Agora é decantado

Mais uma novidade da arte de assassinar espumantes nos chega da Europa e ganha adeptos e defensores no Brasil: a decantação e arejamento antes de saborear-lo.
Depois da moda das pedras de gelo e das frutas, a criatividade parece não descansar.
Vejam as instruções ( e suas fundamentações) para quem quiser arriscar:
1. Utilize um decanter de pescoço longo, bojo estreito e nele verta o precioso líquido com cuidado.
2. Nesta operação o espumante perde 15 a 20% do perlage (gás carbônico dissolvido?) que não deve ser levado em conta porque proporcionará aromas que dificilmente aparecem quando o espumante é servido da forma tradicional.
3. Manter o espumante por 30 minutos e depois servi-lo em copo para vinho branco (é isso que ele é agora).
Vamos explicar as razões pelas quais esta sugestão está fundamentada em premissas falsas:
O gás carbônico tem a função, alem do cativante movimento, de levar os aromas até a boca da taça. Os óleos essenciais que constituem estes aromas se grudam nas borbulhas que se desprendem da superfície do espumante e “viajam” até a boca. Por esta razão, ao contrario do vinho que se beneficia com a oxigenação proporcionada pelo movimento rotatório do copo, a taça de espumante não se agita, se mantêm em repouso. Disser que desta forma os aromas passam a ser prioritários e não mais o gás carbônico é misturar causa e efeito.
Algumas perguntas se repetem:
- Para que nós produtores aguardamos demoradamente mais de um ano para que o gás carbônico gerado naturalmente se dissolva total e lentamente no líquido?
- Estas bobagens que parecem proliferar neste ano obedecem a intenções mercadológicas?
- A intenção é popularizar, desmistificar, quebrar paradigmas, tabus?
Como disse inúmeras vezes e volto a repetir: o mundo do vinho é tão basto que acolhe com extrema e imerecida generosidade todo “banana” que deseja ter seu dia de gloria, de grande enólogo.
Que o tempo faça com que os consumidores aprendam e raciocinem sobre o que gostam e o por que. Que percam o medo de errar para acertar, sem influencias externas, sem conselheiros, sem “personal wine”, sem guias, sem rankings. Desta forma Robert Parker, seus súbditos e seus imitadores terão de cuidar de outras coisas.
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