Bons Vinhos
A corda não aguenta
Trabalhar num setor onde os fatores externos são incontroláveis e afetam diretamente o negócio é verdadeiramente desalentador.
A recente escalada dos impostos que recaem sobre os vinhos e os espumantes, além da desvalorização do real frente ao dólar, podem ocasionar danos irreparáveis ao mercado destas bebidas.
Estes fatores afetam diretamente os preços dos produtos, afugentando consumidores e o caixa de produtores e comercializadores pelo efeito sobre o capital de giro.
Aumento de impostos:ICM no RS: em 01.01 passou de 17% para 18%. O efeito direto com a ajuda da ST é de +1,80% sobre o preço final.
IPI federal: em 01.01 passou de valor fixo de ao redor de R$ 1,50 por garrafa para 10% sobre o preço com ICM. O efeito direto com a ajuda da ST e ICM será de pelo menos 8,5%. Esta porcentagem varia conforme o preço do produto.
Repasse de aumento de custos: Geralmente no início do ano ou nos primeiros meses, as empresas repassam os aumentos de insumos decorrentes da inflação. Em 2016 temos um agravante que foi a desvalorização da moeda que afeta os insumos que são ou utilizam matéria prima importada, como as rolhas e as garrafas. Os aumentos da energia também empurram para cima os custos.
Somadas estas três variáveis deveremos esperar um aumento de custos entre 15 e 20%. Que infelizmente terá de ser repassado aos preços.
Como os consumidores não aumentaram sua renda nesta porcentagem provavelmente haverá retração de consumo.
Para manter a competitividade a saída será diminuir margens de lucro ou os custos dos produtos.
Quem elabora produtos de alta qualidade a alternativa de diminuir custos via substituição de uvas ou tipo de insumo, não serve. A saída será diminuir as margens já perigosamente pequenas.
Para quem produz vinhos e espumantes com preços muito competitivos o problema se agrava. Terá de optar entre aumentar preços e perder participação ou diminuir custos utilizando uvas mais produtivas, garrafas mais baratas, rolhas de menor qualidade. Uma decisão difícil.
Os importadores estarão na mesma encruzilhada. Perder margem, perder mercado ou optar por linhas de produtos mais baratas. A última alternativa parece a mais provável.
Mas esta brutalidade feita com a carga tributária não vem sozinha. Tem um efeito nefasto sobre o capital de giro das empresas.
Os impostos são pagos no mês seguinte ao fato gerador, ou seja, ao dia da emissão na nota fiscal. Como as vendas são feitas raramente em 28 dias, os produtores acabamos financiando os “Governos”. Algo difícil de acreditar.
Ajuste do desequilibrado capital de giro via financiamentos?
Nem pensar porque não existem. Os bancos se caracterizam por financiar as empresas grandes, as que menos precisam.
Aos pequenos exigem faturamento, garantias, etc.
Conclusão: É triste, desalentador, preocupante que após anos de trabalho duro procurando manter a máxima qualidade a preços competitivos, sintamos que a corda está prestes a romper-se.
A corda do consumidor não consegue se estender mais, a nossa está na mão de nossos administradores públicos, nossos sócios compulsivos e odiados, que apertam, apertam, apertam....
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