As vezes, generalizar faz mal
Bons Vinhos

As vezes, generalizar faz mal


Admiro o trabalho de Jonathan Nossiter, autor do famoso filme Mondovino, mais não poderia deixar de comentar um artigo chamado “A revolução do vinho natural” que ele escreveu no caderno ELA GOURMET do jornal O Globo de 7 de janeiro de 2012.
Nossiter não deixa nenhum “produtor normal de vinhos” em pé em sua luta em defesa dos vinhos biodinâmicos, chamados naturais e assegura que todos, inclusive Angelo Gaja que segundo ele faz marketing de luxo artesanal ajudado por alguns jornalistas complacentes, não passam de hábeis manipuladores da química, no vinhedo e na cantina.
Como enólogo e produtor de espumantes não posso concordar com esta afirmação preconceituosa e predatória.
Não há mal nenhum na venda de vinhos a preços mais competitivos, de qualidade simples, direcionados a pessoas de menor poder aquisitivo. Atender a demanda reprimida dos novos consumidores é uma obrigação de um setor que apesar disso não perde seu vínculo com a região, seu clima e seu solo. Até porque é impossível fazer-lo já que o vinho está interligado a uva com a qual foi elaborado que por sua vez é um reflexo do trato do vinhedos associado às características do terroir.
Vinhos de preços mais accessíveis não são resultantes de processos sofisticados onde a química predomina e sim de uvas de alta produtividade utilizadas como matéria prima, elaborações rápidas e volumosas e embalagens econômicas.
Nossiter, na sua defesa ferrenha dos vinhos biodinâmicos extrapola ao afirmar que a grande maioria dos vinhos de agricultura orgânica são uma farsa porque as uvas são “franksteinizadas” até a morte pela tecnologia e a química.
Associar tecnologia à química é desconhecer os benefícios que esta primeira aportou a todos os enólogos do mundo que ficaram mais livres para cuidar do vinhedo e dos detalhes dos processos de elaboração.
Numa demonstração de todo seu radicalismo, chega ao cúmulo afirmando que as leveduras selecionadas, utilizadas por 99,9% das cantinas no mundo, nada mais são do que química (de novo a química!) personalizada em microorganismos.
Louis Pasteur já assegurava no século dezenove, que a fermentação alcoólica, fenômeno natural através do qual o suco da uva se transforma em vinho, é resultante única e exclusivamente da ação das leveduras. Se elas são selecionadas em laboratórios especializados que garantem pureza, ou na própria região produtora, pouco importa. O importante que ele negava categoricamente a associação deste fenômeno natural com a química.
Finalmente Nossiter assegura que a biodinâmica utiliza mínimas quantidades de dióxido de enxofre, ignorando que esta é uma prática normal de todos os bons produtores, ou nenhuma quantidade, concluindo que este produto é o responsável de 50% dos casos de dor de cabeça (a química tóxica faz o resto). A dor de cabeça sim pode ser devido ao dióxido de enxofre mais somente quando utilizado em doses exageradas. Também pode ser por excesso de bebida, misturas explosivas, etc.

Há produtores ruins que elaboram vinhos que chegam a ser insalubres, sim.

Há produtores que exageram nas doses de dióxido de enxofre para combater a falta de cuidados e higiene em seus estabelecimentos, sim.

Mais há uma grande maioria de produtores de uva e de vinho que são profissionais competentes, sérios, responsáveis e conscientes que não merecem ser tratados como manipuladores da química ao serviço da enologia.

Estas pessoas que mantêm suas raízes firmes na mesma terra onde crescem suas uvas, tem tanto orgulho do que fazem e tanta segurança nos resultados que muitos deles estampam seus nomes nos rótulos de seus produtos.

Há uma prova mais eloqüente de seriedade e responsabilidade?



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