Bons Vinhos
Brasil terá uva mais doce na safra deste ano
Teor elevado de açúcar aumenta potencial para desenvolver derivados de melhor qualidade.
Beneficiada pelo clima seco, a colheita de uva se iniciou com perspectivas de frutas mais doces — e consequentemente com potencial para desenvolver derivados de melhor qualidade. No Rio Grande do Sul, a expectativa é de obter 700 milhões de quilos, ante 611,3 milhões da safra passada.
Até o momento, foi colhido no máximo 10% do volume esperado para a temporada, de acordo com presidente do conselho deliberativo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Moacir Mazzarollo: - Tivemos pouca chuva recentemente. É o ideal para a fruta. O que torna a uva mais doce é o clima seco no período certo, como estamos vivenciando agora.
Para o executivo e também presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Veranópolis, Vila Flores e Fagundes Varela, outra característica da atual vindima é o atraso de 10 dias, em média, principalmente por causa das temperaturas mais baixas entre agosto e setembro. As variedades mais precoces para a venda in natura na safra passada, por exemplo, começaram a ser colhidas antes da primeira quinzena de dezembro de 2012. Na safra atual, só depois do Natal. A brotação, que normalmente começa em agosto, atrasou: nesta safra, ocorreu entre o final de agosto e o início de setembro.
Colheita é segunda melhor época para o enoturismoPara que a qualidade da uva se mantenha elevada, o setor espera continuar contando com a ajuda do clima. Quanto mais sol e calor durante a vindima, que tem seu auge entre 15 de fevereiro e 15 de março, melhor.
Além dos ganhos diretos com a industrialização e a venda para consumo in natura, a uva movimenta o turismo. No Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, por exemplo, mais de 70 mil visitantes deverão passar pelo roteiro de vinícolas durante a colheita. O número estimado é maior do que o do mesmo período do ano passado: em 2013, foram 60 mil turistas só no primeiro trimestre. É a segunda melhor época para o enoturismo, depois do inverno.
- Quem visita o Vale dos Vinhedos em qualquer época do ano se encanta com a paisagem do lugar, a qualidade de vinhos, espumantes,gastronomia, hotéis e pousadas. Mas é na vindima que a alegria toma conta — diz Juarez Valduga, presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale).
Nem todos os atrativos turísticos da Serra estão tão bem estruturados assim. No Caminhos de Pedra, que abrange 20 pontos de visitação, não há mão de obra suficiente para receber os visitantes. É que os produtores estão envolvidos com a colheita.
- As famílias estão mais dedicadas à safra. Mas a gente está se adaptando a esse novo momento para conseguir oferecer atrativo turístico — diz Josirene Pinto Crestani, turismóloga do roteiro Caminhos de Pedra.
De Farroupilha para Minas GeraisCom uma semana de atraso em relação ao ano passado, os Broilo deram a largada na colheita no interior de Farroupilha. Até o final de fevereiro, a família e os empregados passarão quase o dia inteiro nos 25 hectares de parreirais, das 7h às 20h, com intervalo para o almoço. A expectativa é de que, no final, pai, mãe, filho e mais nove ajudantes retirem das parreiras 450 toneladas de uva.
Pai e filho divergem quanto a prejuízos. Wilson Broilo, 71 anos, avalia que os parreiras poderiam
render 50 toneladas a mais. Adriano, 39 anos, crê que, em razão dos tratamentos após a chuvarada, não houve perda. Na manhã em que a reportagem visitou a propriedade, enquanto todos coletavam cachos, a matriarca Ivani Broilo, 68 anos, preparava o almoço para o batalhão. A produção da família não fica no Rio Grande do Sul. Vai para uma vinícola de Minas Gerais, que envia caminhões à região para buscar a safra.
A concentração de açúcar na uva colhida até o momento não é das melhores. A família poderia esperar para retirar a fruta mais tarde, o que elevaria o grau de açúcar.
O problema é que não podem esperar pela graduação ideal porque o produto enfrenta uma longa viagem até o sul de Minas, o que deixaria a uva madura demais. Para os Broilo, o que importa mesmo é o volume de produção.
- Para nós, é melhor quantidade porque não vendemos por grau (de concentração de açúcar). Nós vendemos por quilo. Mas cuidamos da qualidade também. Caso contrário, os compradores não vão mais querer — salienta o filho.
Fonte: Zero Hora
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