Bons Vinhos
Concorrência estimulante ou predatória?
Crianza: Três meses em barricas de carvalho e três meses na garrafa.
Cor: Vermelho rubi intenso com tonalidades violáceas próprias de sua juventude, aspecto limpo e brilhante.
Aroma: Frutado, geleia de frutas vermelhas e especiarias como a pimenta em suave marco de baunilha aportada pelo carvalho.
Sabor: Se apresenta exuberante, com taninos presentes e maduros. De longo e complexo final.
Assim é descrito, previa tradução minha, o vinho Cabernet Sauvignon 2010 marca Aberdeen Angus produzido pela Finca Flichman de Mendoza e vendido a R$ 9,80 num supermercado de Porto Alegre.
Minha definição após demorada degustação desta joia da vitivinicultura argentina:
Carvalho nem em fotografia, meses de garrafa durante a viagem e na curta estadia na prateleira.
Cor: Vermelho pálido, mais para clarete que para tinto, sintoma indiscutível de duas possibilidades: mistura de branco com tinto ou uso da produtiva uva Criolla como matéria prima. Cabernet Sauvignon? Será que tem?.
Aroma: Neutro com um ligeiro cheiro de vinho, tímido, recatado. Pimenta e baunilha reinam pela sua ausência.
Sabor: Aguado, sem a mínima expressão, de tão curto, junta o inicio com o final.
Este vinho, que com certeza envergonharia o Sr. Flichman, mentor do famosíssimo Caballero de la Cepa é uma comprovação que confirma a sentença que fez o Presidente da OIV em sua visita na década de noventa: o Brasil é a lixeira da vitivinicultura mundial.
Fica um pouco mais claro a razão de seu preço inferior a R$ 10,00. A mistura de uma pequena parcela de vinho tinto de boa cor com vinho branco escorrido, é a fórmula utilizada para baixar os custos a níveis infames. As uvas brancas utilizadas nestes vinhos, assim como a Criolla Grande, produzem mais que 30 toneladas por hectare. Custo? Próximo de zero. Preço FOB baixo traz consigo a vantagem de detonar os impostos ad valorem como ICM e outros.
Ao provar este vinho me perguntei: É isto que queremos importar? Estes vinhos estimulam a concorrência desafiadora, provocante, ou a predadora, aquela que nivela por baixo? Quem se favorece com estes vinhos invadindo o mercado? O consumidor que aprende a beber isso? O importador que usa estes produtos para baixar preços e aumentar o giro? Ou a região produtora de origem que se livra desta porcaria?
A livre concorrência, sem impostos diferenciados, sem taxas, sem barreiras de qualquer tipo, é salutar e todos a defendemos com todas as forças. E a defendemos porque a concorrência é o motor do crescimento, todos querendo participar do mercado utilizando suas melhores armas: qualidade e preço justo.
Este vinho e muitos mais que se encontram nas prateleiras dos supermercados não oferecem nem qualidade nem preço justo, porque não valem nada. O crescimento brutal das importações em especial da Argentina e Chile é baseado neste tipo de vinho e nível de preço.
Quero chamar a atenção para a diferença de realidade entre os importadores que trazem produtos de qualidade, sérios, representativos das regiões de origem, e favorecem o consumidor alargando a oferta, e aqueles que estão pouco interessados no mercado futuro, são imediatistas, focam preço em detrimento da qualidade.
Será que vale a pena sacrificar tanto os produtores brasileiros? Será que é assim que provocamos o aumento da qualidade do vinho nacional, tão questionada as vezes ou a empurramos ladeira abaixo?
Eu não sei. Me ajudem a entender.
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