Garçom, tem carvalho na minha taça
Bons Vinhos

Garçom, tem carvalho na minha taça


Por Tatiane M.

Dentre as inúmeras características do vinho que encontramos descritas quando vamos comprar uma garrafa, seja na loja ou na internet, a passagem ou não do rótulo por barrica de carvalho é uma das que mais se destacam. Embora existam mais de 200 espécies de carvalho no mundo, apenas cerca de 20 são utilizadas na produção de barricas. As de carvalho francês e americano são as duas mais populares entre os enólogos. Dependendo do tipo de barrica utilizado, o vinho pode obter um resultado bem diferente, e muitos fatores podem contribuir para as características da bebida, como o nível de tosta ou até se a barrica é usada ou nova.
 
Primeiramente, o que devemos saber é que a barrica é responsável pelo amadurecimento do vinho, e quanto mais tempo ele passa lá dentro, mais ele absorve as características passadas pelo carvalho, que, assim como o vinho, também possui taninos. Os taninos do carvalho são mais sensíveis à oxidação, o que faz com o que o oxigênio se ligue primeiro a eles e permite que o vinho tenha sua integridade preservada. Envelhecimento mesmo, só depois de engarrafado. Quem decide tudo isso é o enólogo, que assinará a qualidade final do rótulo.
 
O carvalho é a melhor madeira para se amadurecer o vinho por ser a única que tem características que combinam com a bebida, enquanto as outras madeiras apresentam substâncias que a contaminam. O carvalho acaba funcionando como uma esponja que permite que haja absorção do vinho pela madeira e que tenha contato na medida certa com o vinho, o que favorece em seu desenvolvimento.
 
A diferença entre o carvalho francês e o americano começa já no corte da madeira da árvore e em suas cores. O primeiro apresenta um tom marrom mais escuro, quanto o americano tem a cor mais clara.
 
O carvalho francês deve ser cortado de forma que acompanhe os veios da madeira, o que faz com que se tenha perda de grande parte da árvore. O aproveitamento é, em média, de 15%, o que torna seu custo mais elevado. Porém, este tipo de corte agrega mais aromas e sabores que recordam tostado, tabaco e, às vezes, até toques de baunilha. Se o carvalho francês for serrado, poucas de suas substâncias serão liberadas e não haverá muita influência no vinho. Na maioria das vezes é usado para vinhos de médio corpo a mais encorpados.
 
Já o carvalho americano é de cor branca, pode ser serrado direto, é menos poroso e o aproveitamento da árvore é de aproximadamente 50%. Normalmente a tosta é mais alta para que possa dar mais complexidade aos aromas e sabor do vinho. Ele libera substâncias que, integradas ao vinho, o deixa com sabor mais forte que nos remete a baunilha, café e coco queimado. O carvalho americano é mais utilizado na produção de vinhos robustos, rústicos e elaborados com uvas cultivadas em regiões mais quentes.
 
Além do francês e do americano, alguns países utilizam também o carvalho húngaro e o esloveno. O húngaro é parecido com o francês, mas não tão encorpado. Passa características picantes ao vinho, com notas de canela e amêndoas, e deixa os taninos macios e redondos. O esloveno é usado para vinhos finos e transfere à bebida características semelhantes as do carvalho americano e confere notas parecidas com vinhos franceses medianos. Muitos produtores têm usado o carvalho esloveno mesclado com outros tipos em suas barricas a fim de reduzir custos e obter resultados superiores aos do americano.
 
Depois de definido pelo enólogo em qual tipo de barrica o vinho irá amadurecer, é hora de pensar o nível de tosta, que também interfere no resultado final. O nível de tosta vai conferir toques leve, médio ou forte de café, tostado, baunilha, amêndoas entre outros.
 
O enólogo pode mesclar o estágio do vinho em diferentes tipos de barricas. Uma parte pode ser em carvalho de primeiro uso e a outra em carvalho de segundo uso ou com níveis de tosta diferentes e tempos variados. A barrica pode ser até de terceiro uso, mas depois deve ir para outros fins. Depois do terceiro uso, a barrica é utilizada para vinhos de linhas mais simples e baratas.
 
No final de todo o processo, o enólogo ainda pode escolher deixar o vinho envelhecer em garrafa por mais algum tempo ou colocar direito no mercado.
 
Agora que você aprendeu um pouco mais sobre as barricas e o processo de envelhecimento, que tal tentar identificar as diferentes características nas próximas degustações? Procure saber se o vinho passou por amadurecimento em barrica de carvalho e beba com mais atenção. Certamente você irá perceber notas que foram conferidas pela madeira que tornaram o vinho mais complexo e mais saboroso.

Fonte: Winetag



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