Bons Vinhos
O excesso de carvalho
O carvalho é uma madeira nobre que permite, devido a sua moderada porosidade, a micro oxigenação do vinho, fenómeno através do qual os vinhos tintos perdem adstringência e dureza e ganham os aromas e gosto amável que lembram baunilha e chocolate. Estes aromas encantam todos os consumidores em especial os menos acostumados a beber vinhos tintos.
Na elaboração de vinhos para guarda, mais encorpados e robustos e onde a carga de taninos é fundamental para esta potencia, a fase de maturação em barricas de carvalho é quase impressindível já que é a forma mais natural de retirar "gordura" e dureza. Os grandes vinhos de Bordeaux, ao sul da França, sofrem obrigatoriamente esta passagem por madeira de pelo menos um ano, porque são muito encorpados e longevos.
Nos anos oitenta, por influência do mercado inglês (sempre ele!!) alguns países do Novo Mundo, livres das normas técnicas que vigoram no Velho Mundo, começaram a produzir vinhos com presença marcante (excessiva) de carvalho que os tornava "perfumados e agradáveis". Eram verdadeiros chás de madeira. A técnica? Em vez de barricas de carvalho, caras e demoradas, utilizavam lascas de carvalho que em contato com o vinho transmitiam algumas características olganolépticas dos vinhos de barrica a um preço infinitamente inferior. Esta moda parecia ter acabado, ou ao menos diminuído.
Que nada! Continua em vigor, agora aplicada em todos os vinhos, em especial novos, e em todos os países.
É a mediocridade tomando conta e nivelando todos os vinhos! Agora alguns produtores mais espertos do Velho e Novo Mundo abusam da madeira, escondendo defeitos e muitas vezes, virtudes.
Neste fim de semana tentei beber um vinho originário de Ribeira del Duero, uma boa região DOC da Espanha situada ao norte, logo abaixo de Rioja, que recebi de presente de um amigo .
O vinho da marca Cepa 21, colheita 2055, foi elaborado com a uva Tempranillo (a uva dos vinhos de Rioja) e tem um teor alcoólico de 15% em volume. Imaginaram a força varietal deste vinho, que se encontra escondida sob o cobertor grosso da madeira?
Foi impossível beber-lo. Ao fim do primeiro copo era tanto o gosto de madeira que nossos paladares ficaram anestesiados, sem capacidade de sentir outras características.
Que pena que ainda haja uma oferta tão forte deste tipo de vinhos! Seria tão bom destacar os aromas e sabores típicos de cada casta, de cada região, de cada país.
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