Intervencionismo
Bons Vinhos

Intervencionismo


Por curiosidade e razões profissionais estive visitando algumas cantinas recentemente no Brasil e na Argentina e confesso que fiquei algo decepcionado pelo nível de “intervencionismo” que existe em boa parte delas.

Parece que os tempos da enologia natural, quando a elaboração dos vinhos se resumia à escolha da uva e acompanhamento do processo natural da fermentação e as operações específicas da elaboração em brancos ou em tintos, acabaram ou ficaram restritos a poucas cantinas.

A missão do enólogo era, e defendo que continua sendo, deixar a uva se expressar, mostrar sua peculiaridade, sua espontaneidade, seu caráter. Os vinhos tintos elaborados de forma simples são saborosos, tem personalidade, são únicos.

O uso de auxiliares que tem como efeito amaciar, arredondar, aromatizar, em fim, mascarar, acabam deixando todos os vinhos parecidos, as vezes iguais.
Recordo a frase de um querido amigo quando ouvia o martelo amaciando a carne: “Estão aminhonando o alcatra”. O martelo sobre o vinho não é legal.

O uso de chips, a meu ver a maior praga da enologia moderna, parece resolver tudo e é usado de forma indiscriminada.

É justificável usar este “ingrediente” na elaboração de vinhos da uva Malbec, sadia, madura, perfeita para conseguir maravilhosos e saborosos produtos jovens ou de guarda em Mendoza?

Ao perguntar estranhado o porquê desta técnica ouvi a justificativa de que serve para “fixar a cor dos vinhos”. Será que esta uva, que atinge magníficos índices de maturação, está livre de chuvas predatórias e de doenças fúngicas, precisa ser assassinada desta forma?

O pior é que este tipo de iniciativa geralmente parte de consultores internacionais que não querem nem podem correr o risco de “errar”. Então partem para a padronização, para o estilo refrigerante onde cor, aroma e sabor tem de ser sempre exatamente iguais. Fabricam o vinho, não o elaboram.

O consumidor de vinhos poderá perguntar: como saber se o vinho que bebo foi manuseado demais? Se for muito cheiroso, redondinho, quase adocicadinho, aposte na habilidade do químico (desculpe, enólogo) que o fabricou.




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