Os que se dedicam a degustá-los acabam por conhecer sua capacidade de convencer os mais exigentes paladares.
Até recentemente, o consumidor médio brasileiro, influenciado pelos formadores de opinião, tinha restrições aos vinhos finos nacionais, com base no puro preconceito e no desconhecimento de sua potencialidade. Mesmo nos dias atuais, sempre que isso acontece, o desinformado enófilo acaba tomando toda sorte de zurrapa importada barata, cujos preços não condizem com níveis mínimos de qualidade.
Os que se dedicam, porém, a degustá-los conscientemente, fazendo-o às cegas, mesclando-os com importados de boa qualidade, surpreendem-se e acabam por conhecer sua capacidade de convencer os mais exigentes paladares. Nas conversas sobre vinhos nacionais, a imagem que nos vem é sempre o da Serra Gaúcha, mas hoje temos outras origens de grande expressão, como a Campanha, a Serra Sudeste e os Campos de Cima da Serra. Como numa onda que se agiganta, o processo está chegando a vinhedos que despontam neste grande Brasil de muitos climas. É preciso destacar a primeira Indicação Geográfica de Procedência aprovada nos foros internacionais, a IGP - Vale dos Vinhedos, agora em franco processo para ser promovida a Denominação de Origem Controlada. Sem entrar em muitos detalhes, é fácil comprovar a excelência de algumas vinícolas, como Miolo, Valduga, Pizzato, Marco Luigi, Dom Cândido, Dom Laurindo, Cordelier, Lidio Carraro e outras, através da oferta de rótulos de grande expressão, como o Miolo Merlot Terroir, o expressivo Fausto Merlot Rosé, da Pizzato, o varietal Doppio A, do Albericci, o Tannat Dom Laurindo, e assim por diante.
Deixando essa microrregião, numa primeira expansão para outras áreas, pontuam rótulos de localizações como o Vale da Ferradura, que oferece o excelente Marson Reserva C. Sauvignon, Tuiuty, onde a Salton impera com vinhos da coleção Volpi e com o excepcional Desejo, e em Faria Lemos, a Estrelas do Brasil, com uma coleção de primorosos espumantes, e a tradicional Dal Pizzol.
Dos altos de Pinto Bandeira, vamos encontrar a emblemática Cave de Amadeu, com a linha de espumantes Cave Geisse, a Valmarino, com o Reserva da Família (C. Sauvignon, Merlot, Tannat e C. Franc), e a Aurora, com o estruturado C. Sauvignon Millèsime 2004. Deslocando-nos pela Serra Gaúcha, vemos continuar o desfile da alta qualidade, através dos artesanais Bettu, e o Generoso, do enólogo Anderson de Cesaro.
Desviando-se para a região de Flores da Cunha, destacam-se a Boscato, com o Grande Reserva, a Fabian, com vinhos de sotaque francês, a tradicional Valdemiz, com a novidade do Reserva Touriga Nacional, e a Fante, com bons espumantes. Mais em cima, em Muitos Capões, os vinhedos do RAR, rótulo da Miolo.
Como notas diferentes, estão-se revelando as novas províncias vitivinícolas gaúchas na direção da fronteira com o Uruguai. Para chegar lá, seria bom passar por Porto Alegre e tomar um C. Sauvignon Bordignon, uma vinícola que agora se apresenta ao público depois de mais de trinta anos de atividade de vinificação de uvas de seus vinhedos na capital gaúcha.
Na Serra do Sudeste, que desenha um terroir em forma de uma grande ferradura, aninham-se vinhedos de uvas excepcionais, transformados em grandes vinhos pela Angheben, Valduga, Lídio Carraro, Tormentas e Chandon. Na ponta inferior da Serra, em Pinheiro Machado, vale salientar a Terrasul.
Mais para baixo, tem-se uma longa faixa que acompanha a divisa com o Uruguai, a Campanha, de onde vêm os bons rótulos Fortaleza do Seival, Palomas Almadén e o Cordilheira de Sant’Ana Gewürztraminer ou Tannat.
Deixando para trás as vinícolas estabelecidas nas origens gaúchas do vinho, vamos entrever a vitivinicultura de altitude catarinense, que vem surpreendendo o País com produtos finos de alta qualidade, os quais, sem sombra de dúvida, estão participando da linha de frente dos melhores do País.
Em São Joaquim, destacam-se a Vinhos Sanjo, com os rótulos Nobrese e Núbio, a Quinta Santa Maria, com Portento e Utopia, e a Quinta da Neve, com Pinot Noir e C. Sauvignon, além da Villa Francioni, com os vinhos Chardonnay, Sauvignon Blanc e Joaquim.
No médio Oeste, falam alto Pisani Panceri, na Serra do Marari, a Santa Augusta dos altos de Videira, com C. Sauvignon- Merlot e o Moscato Giallo, e a grande estrela Villaggio Grando, com o insinuante corte Innominabile (C. Sauvignon, C. Franc, Merlot, Malbec, Tannat e Marselan) e um elegante Chardonnay.
Entrando na terra do café, em pleno Oeste do Paraná, de solo e clima especiais, surge a Dezem, uma vinícola butique, com produções pequenas e vinhos de muita expressão, como C. Sauvignon, Chadonnay e um espumante de alta qualidade. Em Maringá, a Vinícola Intervin produz vinhos variados sob rótulos Aljôfar, que podem representar promessas futuras. Ainda sem presença no mercado, em Assis, São Paulo, há um projeto de vinho cortado de qualidade, o Dom Thomas, ainda sem data para lançamento oficial.
Sem a intenção de esgotar o assunto, terminamos nossa viagem pelo Médio São Francisco, com destaque para os vinhos baianos da Miolo, assim como os da Vinibrasil, que, contrariando a geografia vitivinícola mundial tradicional, vem agradando aos europeus, com seus rótulos Rio Sol. O vinho de qualidade no Brasil vem-se projetando como bom negócio, e tem sido levado a sério pelos empresários brasileiros, que se modernizam, implantam tecnologia, contratam especialistas e buscam as melhores cepas.
Outro dia, em Curitiba, um grupo de apreciadores realizou uma degustação de châteaux bordaleses e, sem informar aos demais, alguém colocou um vinho brasileiro no painel... como o Innominabile: obteve excepcional resultado, passaram a chamá-lo Château das Araucárias, para felicidade dos consumidores e constrangimento para os megatérios que afirmam “não tomo vinho nacional..."
Quem beber, viverá...
quem viver, beberá!