Bons Vinhos
Meu quadragésimo vinho para a Confraria Brasileira de Enoblogs #cbe
1° de maio, famoso dia do trabalhador, feriado para boa parte da classe trabalhadora, mas como primeiro dia do mês é também uma data para aquela publicação especial para a querida Confraria Brasileira de Enoblogs - CBE.
Este mês o tema coube ao Gil Mesquita, fundador da primeira e única confraria virtual do país e também autor do blog Vinho para Todos, que sugeriu: "qualquer vinho de sobremesa, mas com uma dica de harmonização no post (de preferência com foto)".
Parece que foi ontem que participei pela primeira vez na CBE: relembre, mas hoje comento meu quadragéssimo vinho para esta distinta confraria e a minha escolha vem da Argentina, Susana Balbo Late Harvest Malbec 2010.
A Susana Baldo dispensa apresentações assim como seus vinhos, sendo sinônimo de esmero e qualidade, desde as linhas mais básicas aos seus vinhos topo de gama.
As uvas que deram origem ao vinho foram colhidas manualmente no final do período de colheita, quando as já haviam virado passas. Após o desengace total seguiu para fermentação em pequenos tanques com leveduras selecionada. Findo o processo de produção o vinho amadureceu por 18 meses em barricas de carvalho francês de primeiro uso.
Visualmente apresentou cor rubi escura com reflexos violáceos e lágrimas finas e rápidas. No nariz aromas de frutas secas, especiarias (cravo e canela), chocolate, café e tabaco. Em boca mostrou taninos doces e bom frescor. Final de boca de boa persistência com notas de fruta madura e chocolate amargo aparecendo no retrogosto.
A harmonização ficou por conta de um cheesecake de frutas vermelhas e calda de goibada, aportando novos sabores ao vinho
O RótuloVinho: Susana Balbo Late Harvest
Tipo: Late Harvest - Colheita Tardia
Casta: Malbec
Safra: 2010
País: Argentina
Região: Agrelo, Luján de Cuyo
Produtor: Domínio del Plata
Enólogo: Susana Balbo
Graduação: 14,8%
Onde comprar: Cantu e Wine
Preço médio: R$ 100,00
Temperatura de serviço: 10°
* Post Scriptum (Texto extraído do site Sonoma)
O Cavaleiro Atrasado e a Colheita Tardia
"Tudo começou por engano, hoje é um dos vinhos de sobremesa mais típicos".
Colheita tardia?
A colheita tardia nada mais é do que colher as uvas várias semanas após o período ideal. As uvas vão perdendo água e ficando com mais açúcar concentrado, ou seja, mais doces (como uma uva passa).
A maioria dos vinhos de sobremesa e vinhos doces naturais, são produzidos por este método, entre eles os famosos franceses Sauternes e Muscat, os húngaros Tokaji e os italianos Vin Santo, Malvasia e Moscato.
Há vinhos maravilhosos feitos por colheita tardia, em várias partes do globo. No Novo Mundo, o Chile se superou nos vinhos produzidos com este método, mas também podemos citar o nordeste brasileiro e a África do Sul.
Mas você sabia que a colheita tardia foi descoberta por acidente?
Era uma vez...
Nossa história começa em uma cidadezinha alemã escondida, chamada Fulda, a cerca de 100 km ao norte de Frankfurt. Durante muitos anos (estima-se que de 1752 a 1802), quem governava Fulda eram os príncipes-bispos, chefes espirituais que também exerciam poder como soberanos da região. Assim sendo, tudo que acontecia em Fulda precisava do aval do príncipe-bispo, inclusive a colheita de uvas.
Na época da colheita, era uma correria: mensageiros indo de lá para cá, para pedir a permissão e voltar a tempo para o viticultor colher as uvas no período ideal, lembrando que as distâncias não eram percorridas com a facilidade de hoje.
Um belo dia, os monges que produziam vinho na colina de São João (Kloster Johannisberg, na Renânia), a 150 km do mosteiro do príncipe-bispo, enviaram o mensageiro Babbert para pegar a autorização da colheita. No meio do caminho, o pobre Babbert foi assaltado e chegou atrasadíssimo na corte do príncipe-bispo. Até pegar a autorização e voltar pras colinas, as uvas Riesling já estavam bem mais do que maduras, murchando e ressecando na videira. Os monges suspiraram de frustração, e decidiram fazer o vinho assim mesmo. Fazer o quê, se atrasou, atrasou! O vinho ainda precisa ser feito.
E no que deu?
O resultado foi um vinho doce delicioso que encantou a todos. As Rieslings maduras estavam mais docinhas e o vinho feito com elas era licoroso, diferente de tudo que havia. Foi aí que começou o processo de colheita tardia, que no século dezenove chegou à Alsácia, na França, onde foi chamada de “vendange tardive”; depois foi para a Itália, como “vendemmia tardiva”; para a Espanha, como “cosecha tardia” e, finalmente, para o Novo Mundo, chamada de “late harvest”.
O antigo mosteiro da colina de São João é, atualmente, um castelo. Dentro dele, existe uma estátua em homenagem ao mensageiro Babbert, que, graças aos seus infortúnios, fez com que hoje a gente se deliciasse com vinhos que acompanham sobremesas e adoçam nossa vida.
Por Carol Oliveira e Fernanda Braite
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