Bons Vinhos
Hora de investir nos vinhos baratos
Entre as conclusões do mais amplo debate sobre vinho tinto já realizado no País estão a de que há mais chances de crescer na faixa de rótulos de baixo preço e a de que é preciso apostar em formação, informação e criatividade.
"Não esperem uma casta símbolo do Brasil, como tiveram Chile (Carmenère), Argentina (Malbec) e África do Sul (Pinotage). Temos terroir muito diverso." A afirmação, do pesquisador de enologia da Embrapa, Mauro Zanus, serviu de termômetro para as discussões na primeira edição do Wine In, promovido pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) na semana passada em São Paulo.
Durante dois dias, especialistas de vários países e representantes de tradicionais vinícolas brasileiras, como Miolo, Casa Valduga e Salton, e de pequenos (e bons) projetos, caso de Don Abel, Don Bonifácio e Routhier & Darricarrère, buscaram caminhos para as dificuldades que limitam o crescimento do setor, como o consumo ainda tímido no País, abaixo dos 2 litros per capita por ano, a falta de apoio governamental e a pouco disseminada cultura do vinho. Flávio Pizzato, enólogo da vinícola Pizzato, falou d a falta de competitividade com Chile e Argentina. "O Brasil produz 38 milhões de litros de vinhos finos por ano, o mesmo que uma única vinícola de médio/grande porte dos outros dois países".
Uma saída para o impasse seria a aposta na faixa de vinhos mais baratos, com mais chances de crescer, e em formação, informação e criatividade.
Os organizadores promoveram degustações com tintos brasileiros acima e abaixo de R$ 50 e escolheram os cinco melhores de cada faixa. Veja abaixo:
Acima de R$ 50
Don Abel Rota 324 Cabernet Sauvignon 2005 (R$ 84) - Pequeno projeto localizado em Casca (a 100 km de Bento Gonçalves), na Serra Gaúcha. A safra inaugural da vinícola coincide com um bom ano para a produção de tintos (2005). O vinho está em seu auge, mantendo a tipicidade da Cabernet Sauvignon e suas notas de cassis, pimentão e cedro, junto com as notas de baunilha e especiarias (canela e cravo). Os taninos foram bem amaciados pelo tempo e o frescor está equilibrado ao potente e límpido conjunto.
Miolo Lote 43 Merlot Cabernet Sauvignon 2011 (R$ 96) - O Lote 43 foi o primeiro vinho de topo de gama da Miolo e um dos primeiros tintos nacionais a almejar este novo patamar (sua primeira safra foi em 1999). Na safra 2011, o vinho está bastante elegante, com boa mescla de frutas vermelhas (da Cabernet Sauvignon) e negras (da Merlot). As notas de carvalho ainda devem se integrar ao conjunto e há apenas um toque herbal. A textura é bastante polida, com mais notas de frutas vermelhas e pão tostado na boca.
Almaúnica Reserva Syrah 2011 (R$ 55) - Projeto jovem (2008) e que se destacou por este Syrah, variedade pouco comum na Serra Gaúcha. Com estilo potente e concentrado, segue o estilo dos vinhos do Novo Mundo, bastante compacto na boca. O frutado é bastante maduro (frutas negras), com notas de cacau e baunilha.
Pizzato DNA99 Merlot 2008 (R$ 115) - Sua primeira safra, em 2005, levou o prêmio de melhor tinto nacional, na ExpoVinis 2011. Esta, avaliada agora, é a segunda edição do rótulo mais ambicioso da vinícola. Exemplar muito representativo do potencial do Vale dos Vinhedos em boas safras. Ótimo frescor e taninos muito finos.
Miolo RAR Cabernet Sauvignon / Merlot 2008 (R$ 54,16) - Desenvolvido em parceria com a família Randon no nordeste do Rio Grande do Sul, o projeto revela os benefícios da altitude para a produção de vinhos (cerca de 1.000 m). O clima um pouco mais frio e menos chuvoso se traduz em um vinho elegante, com um toque de ervas frescas, mas dominado pelas frutas vermelhas frescas, ótima acidez e taninos mais angulares, mais próximo de um estilo dos rótulos típicos da região de Bordeaux.
Abaixo de R$ 50
Dal Pizzol Do Lugar Cabernet Franc 2011 (R$ 32) - Vinícola em Faria Lemos, ao norte do Vale dos Vinhedos (RS). A referência da variedade está nos vinhos do Loire (varietal) e Bordeaux (em mesclas). Apresenta notas de frutas negras e mentol, com boa potência e média concentração. A boa acidez típica dos vinhos brasileiros está presente, com taninos discretos, mas levemente rústicos. Embora passe 12 meses em tanques de madeira, não aparecem notas de baunilha. Para quem busca um estilo internacional.
Pizzato Merlot Reserva 2010 (R$ 45) - Localizada dentro da D. O. Vale dos Vinhedos, a vinícola se especializou na Merlot e foi uma das precursoras do uso exclusivo de variedades viníferas na Serra Gaúcha. As notas de baunilha, chocolate e especiarias das barricas de carvalho estão presentes e em equilíbrio com as notas de frutas negras (ameixa e amora). A difícil safra de 2010 se faz notar pelos taninos levemente secantes. Para quem busca a expressão da casta melhor adaptada à Serra Gaúcha.
Casa Perini Tannat 2011 (R$ 23,10) - Vinícola de Garibaldi, mas com a maior parte dos vinhedos em Farroupilha, onde cultivam a Tannat que dá origem a este vinho, repleto de notas frutadas (groselha, amora e tutti frutti), ótima acidez e textura sedutora. Os taninos são finos, apenas sutilmente secantes, Ideal para dar os primeiros no mundo do vinho sem susto (pelo preço, inclusive).
Salton Intenso Merlot 2009 (R$ 28) - Produzido por uma das maiores vinícolas do País com uvas do vinhedo da Campanha Gaúcha, este Merlot passa seis meses em barricas de segundo uso. Tem notas de frutas negras (sobremaduras), leve nota primária (de uva in natura), com taninos presentes, boa potência e acidez adequada, que não deixa o vinho “cansar” na boca.
Monte Paschoal Dedicato Cabernet Sauvignon 2011 (contraditoriamente vendido a R$ 58,70 no site da vinícola) - Vinícola e vinhedos estão na Campanha Gaúcha, na divisa com o Uruguai, onde o clima é mais estável e o solo tem melhor drenagem. A qualidade se reflete no vinho, com ótima “nitidez” nos aromas –ameixa, baunilha e violeta. Bom frescor, taninos bem polidos. Para quem quer dar o segundo passo no mundo dos vinhos. Está um degrau acima no preço, mas com qualidade que responde à altura.
Fonte: Estadão
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