Bons Vinhos
Vinhos com expressão
Não existe nenhuma bebida capaz de expressar-se como o vinho.
A influência da matéria prima é tão grande que as condições de clima e solo são predominantes nas suas características. Esta “dádiva” é a que torna o vinho de cada variedade, de cada região, único e particular.
Através da uva o vinho se expressa, tem rosto, identificação, DNA.
Nas mãos de enólogos que simplesmente conduzem o fenômeno natural da transformação do suco da uva em vinho, a forma de expressar-se do Cabernet Sauvignon, por exemplo, é através de vinhos robustos, potentes, ariscos, dignos de serem domados por especialistas.
Se o solo é pobre e o clima com boa amplitude térmica e moderadas chuvas, ele, de tão intenso, “pedira” calma, exigirá maturação lenta, de ser possível em madeira nobre como o carvalho. Na barrica sofrerá a polimerização dos taninos que ficarão mais macios, amáveis e incorporará naturalmente os sabores e aromas da madeira. Ao sair da maturação será necessário o merecido repouso na garrafa onde a madeira perderá importância e ganhará maciez, complexidade e elegância.
Se o solo é rico e o clima úmido, o mesmo Cabernet se expressará através de vinhos mais magros e duros, algo herbáceos e difíceis de domar, selvagens pelo resto da vida.
O primeiro é bom o segundo ruim?.
Não, simplesmente diferentes.
Diferenças que valorizam o maravilhoso mundo do vinho.
Estas diferenças dadas entre as mesmas variedades pelo clima e solo existem entre as castas. Com a uva Pinot se elabora um tipo de vinho, diferente do Gamay, do Merlot, do Bonarda, do Malbec, do Tempranillo, etc,etc.
Permitir que a uva e o terroir se expressem nada mais é do que criar condições adequadas para que não haja interferências que impeçam ou alterem o curso natural da transformação destes, no vinho que os represente.
Por isso e enólogo tem de ser um hábil e sensível condutor que saiba tirar todo o potencial aplicando a técnica adequada para cada ocasião.
Já nas mãos de enólogos “progressistas” que gostam de maquiar, retocar, alterar e padronizar seus vinhos, a matéria prima passa a desempenhar um papel secundário.
A macies se ganha com aditivos, o tempo de maturação se ganha através da micro-oxigenação com a ajuda de aparelhos, o toque de carvalho se consegue com a adição durante a elaboração ou posteriormente de lascas de carvalho ou maravalha que impregnam o vinho com aromas e sabores de baunilha e chocolate. Contrariamente aos vinhos com expressão, estes são sempre iguais, padronizados, “perfeitos”, docinhos, adoráveis.
Os enólogos que elaboram seus vinhos sem artifícios são verdadeiros artistas, usam toda a sua sensibilidade e bom gosto ao serviço de sua criatura.
Aproveitam o potencial das uvas para produzir vinhos que nascem sadios, formam seu caráter durante a maturação lenta e envelhecem com dignidade desafiando o tempo com valentia.
Já os enólogos intervencionistas são verdadeiros cirurgiões plásticos, tiram daqui, colocam lá, adicionam recheios e “fabricam” vinhos aparentemente perfeitos, mas que não passam pela análise criteriosa do enófilo menos experiente.
Como acreditar que um vinho Cabernet Sauvignon ou Malbec ou Tannat chileno, argentino, brasileiro ou jamaicano da safra 2013 passou “longos meses maturando em barricas de carvalho francês de 225 litros”?
Como acreditar nisso se o vinho, ainda uma criança, apresenta-se tão dócil (quase doce) e agradável.
Por aí passou certamente um bisturi.
Você deve beber os vinhos que gosta mas não esqueça de procurar o detalhe que diferencia uns dos outros.
Ao procurar o detalhe achará o vinho da variedade ou da região com o qual se identifica.
E garanto que descobrirá quanto é gostoso garimpar constantemente na procura da nova experiência, do novo sabor, da nova sensação.
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