Bons Vinhos
Ah, o mundo dos Borgonhas ...
Você já viu a cena em muitos filmes antigos - antes de ser fuzilado, o sujeito tem direito a um último pedido, em geral uma taça de uma bebida clássica : um vinho, um conhaque, um rum, sei lá ...
Muito bem : saiba você, estimado leitor, estimadíssima leitora, que no mínimo nove entre dez apreciadores de vinho, se tivessem que escolher uma última tacinha antes de enfrentar o pelotão de fuzilamento, escolheriam um Borgonha - de preferência, claro, um Romanée-Conti, o mais simbólico e mitológico dos vinhos franceses.
E por qual razão ? Bem, não é muito fácil explicar. A Borgonha, localizada na região centro-leste da França, produz essas maravilhas pelo menos desde o século VII. Estão localizados na região alguns dos vinhedos mais conhecidos e famosos do mundo : Gevrey-Chambertin, Vougeot, Nuits-St-Georges, Vosne-Romanée, Chassagne-Montrachet, Meursault e tantos, tantos outros ! A uva soberana dos tintos da região é a pinot noir, - uma uva delicada, de cultivo difícil. Enfim, a verdade é que os Borgonha possuem uma mística, uma fantasia toda própria.
Semana passada, nesta duríssima vida de blogueiro de vinhos, fui convidado a participar de uma degustação de Borgonhas, promovida pela Zahil, uma das boas casa importadoras aqui de Sampa. Provamos os vinhos produzidos pela vinícola
Roux Père & Fils, que produz seus vinhos por lá desde o final do século XIX. A degustação envolveu três brancos e três tintos.
Os BrancosComeçamos com um
Bourgogne Chardonnay 2010, um Borgonha genérico (isto é, feito com uvas colhidas em vinhedos não identificados). Um vinho frutado, que não passa por madeira, com boa acidez, e qualidade acima da média para sua faixa de preço (88 reais).
Depois, atacamos um
Saint Aubin La Pucelle 2009. Este já é um vinho bem superior ao anterior (inclusive no preço, é claro : 197 reais), com ótimo equilíbrio entre a fruta e a madeira - pro meu gosto, o melhor dos brancos provados (inclusive na famosa relação custo x benefício).
Finalizamos com um belo
Meursault 2007, com aroma a frutas secas (amêndoas, talvez ?) e um toque mineral bem interessante, contrastando com uma certa untuosidade da chardonnay. Este já é da categoria dos bem caros, 373 reais a garrafinha ...
Os TintosComo nos brancos, o início foi com um genérico, um
Bourgogne Rouge 2010. Linda coloração violácea bem clarinha, típica da pinot noir. Por 88 reais, um bom vinho até para beber como aperitivo, num final de tarde quente.
O segundo tinto foi um
Gevrey Chambertin 2008. Já mais distante da fruta do primeiro vinho, aqui a gente já sente a presença mais marcante da madeira. Pareceu-me um pouco tânico, e desconfio que ainda vai melhorar, dentro de mais algum tempo. É um vinho bem caro (307 reais), vindo de uma das denominações mais conhecidas da Borgonha (Gevrey-Chambertin)
A brincadeira toda acabou com um delicioso
Chambolle Musigny 2006. Este, pro meu gosto, o melhor vinho da tarde, disparado. Aromas complexos, misturando amêndoas ou nozes com notas de tabaco. Corpo equilibrado, com taninos macios e uma longa permanência na boca. Chato é o precinho dele, de 375 reais.
Enfim, meus amigos, saí de lá me sentindo absolutamente pronto para enfrentar, senão o pelotão de fuzilamento, pelo menos o trânsito infernal da cidade na hora de voltar pra casa ...
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